domingo, 12 de setembro de 2010

MANOBRAS SIMPLES E SEGURAS (APARENTEMENTE)

Quando se fala em manobra perigosa, o assunto não diz respeito, necessariamente, a operações que envolvem grandes e notórios riscos. Qualquer manobra tática deve ser sempre encarada com seriedade pelo responsável, normalmente o Comandante, para que não haja danos e perdas ou outros problemas inesperados que influam nos procedimentos necessários de prevenção e/ou contenção de perigos.

Aconteceu comigo. Foi num período em que a economia de combustível era seguida e requerida; os exercícios dos navios da Esquadra eram programados com foco operacional no que devia ser evitado, como deslocamentos a grande velocidade e a ida a portos longe da sede, que fica no Rio de Janeiro. Assim, numa semana de exercícios nas imediações de Cabo Frio, os navios eram obrigados a intervalos noturnos, permanecendo parados em pontos de fundeio. Também não devia ser programada a ida a portos ou outros pontos de terra que demandassem gasto não desejável de óleo. Foi um período em que se ia, no Sul, à Ilha Grande, ou, no máximo a Santos; e, no Norte, Vitória ou Salvador. No exercício que vínhamos fazendo, a determinação, para ser mais resumido, era de que fundeássemos, às tardinhas, e passássemos as noites parados, nos arredores marítimos de Cabo Frio.

De fato, para lá fomos ao pôr do sol, porém sob um vento que boa coisa não prenunciava. Nossos três navios logo fundearam nos pontos designados, junto à terra, de tal modo que as popas ficaram a cerca de cem jardas das pedras. O CT Maranhão aproava à entrada de uma frente fria que chegava do Sul. E o nome do local em que estávamos é Enseada do Forno.

Então, com o passar do tempo, começou a aumentar o número de barcos de pesca, na mesma área em que estávamos, todos vindos de alto mar para buscar abrigo junto a nós. Se fosse necessário, de uma hora para outra, sair dali, os nossos navios iriam ter muita dificuldade, pela escassez de espaço. Por volta da meia noite, a amarra dizia francamente para vante e era visível que nossa popa (minha, do CT Maranhão) ia dar nas pedras se nada fosse feito. Resolvi, embora relutante, suspender, junto com os outros dois navios do Grupo-Tarefa, achar caminho em rumos que nos propiciassem saída, entre os pequenos, para depois ganhar (se Deus quisesse) o alto mar.

Foi altamente estressante e durou uma eternidade, mas conseguimos. Contamos com a boa vontade de dois dos pesqueiros, que também suspenderam para auxiliar nossa passagem. Mesmo assim, passamos raspando (sem bater!) algumas vezes. Quando nos vimos fora da enseada, só não suspiramos de alívio porque a adrenalina ficara muito alta, só se desfazendo com a promoção de eventos do dia que se seguia.

Lição do acontecido: manobra do navio é trabalho para gente grande e calma, verdade que nos pode incluir como preparados, naquela época.

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