terça-feira, 24 de agosto de 2010

SÃO PAULO: A CADA VEZ QUE AQUI ESTOU...

A cada vez que aqui estou, venho buscar-me menino
e, assim, ansioso, garimpo no concreto do presente,
atrás de espaços e momentos vivos que se foram.


Procuro esses raros e preciosos mosaicos e os encontro.
Logo vejo que são fragmentos, pedaços do tempo eterno,
a espantar-me com o encanto vivo que trazem
das próprias origens renascidas.

A cada vez que aqui estou, domino, temerário,
a magia de reabrir, em suaves farfalhos, pesados e reposteiros.
Faço entrar a luz primeira e desperto de seu sono,
por instantes, pessoas e imagens
colhidas nos átimos que as fizeram perenes.

A cada vez que aqui estou, vislumbro, em êxtase,
velhos desvãos que encerram vivências antigas.
Capto, umedecido, passados véus de garoas peregrinas,
cinzentas e frias, nas tardes infinitas do princípio.


Percorro, ainda, velho forasteiro feito criança,
alamedas de fecundos verdes, cheias de sol e fresco brilho,
nas convalescentes manhãs da infância, em que –
disse o poeta ungido – morrer seria pecado.

Tudo renasce por encanto e logo se esvai,
surge só para dizer que existe e, a seguir, fenece.
Vive, enfim, a breve vida de uma eternidade suspeitada,
ante o viageiro que procura e anseia,
que busca nas raízes aconchego e redenção,
a cada vez que aqui estou.


Sergio Queiroz

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