domingo, 21 de novembro de 2010

BOTAFOGUENSE PRIVILEGIADO

Meu encontro com um dos maiores ídolos da história do Botafogo aconteceu quando ainda freqüentava o jardim de infância. Na época, morava em São Paulo e estava de férias com meus pais no Rio. Fomos visitar o escritório de um amigo de meu pai. Subíamos no elevador em um prédio na Avenida Rio Branco, rumo ao último andar, quando entraram quatro homens, entre eles Heleno de Freitas, que eu conhecia através do radio e fotos nos jornais. Eu estava com um escudo do então Palestra-Itália, que logo chamou a atenção do jogador. Sempre elegante e comunicativo, com a mão nos meus ombros, foi logo dizendo:
– Pessoal, olhem só para cá, o rapaz aqui é torcedor do Palestra, de São Paulo.

– Rapazinho – continuou Heleno dirigindo-se a mim – Você tem que ser Botafogo. O que é que acha disso?

Mal reiterei minha condição de palestrino, ele interrompeu:

– Nada disso, a partir de hoje você vai ser botafoguense, sou eu que estou mandando, ouviu?

Eles saíram em seu andar, enquanto Heleno acenou para mim e disse:

– Olha aqui, você agora é Bo-ta-fo-go, entendeu?

A porta acabou de fechar lentamente e eu e meus pais subimos ao último andar.  Não seria preciso dizer que, daquele momento em diante, eu passei a ser botafoguense de “carteirinha”.

QUEM FOI HELENO DE FREITAS?

Uma verdadeira lenda que fez parte do seleto grupo de brasileiros que foram famosos atletas do futebol mundial no passado mais antigo e naquele um pouco mais recente, como Friedenreich, Leônidas da Silva, Ademir, Pelé, Tostão e tantos outros. Nasceu em 1920, em Minas Gerais, filho de família de classe média alta. Frequentou a alta sociedade do Rio de Janeiro, tendo começado a jogar na praia, onde foi descoberto pelo ativo Neném Prancha e introduzido no futebol profissional, chegando ao time do Botafogo em 1937, vindo a ser o substituto do famoso Carvalho Leite, na posição de centroavante. Tornou-se, na época, preferido da torcida alvi-negra, ao mesmo tempo em que fez parte do Clube dos Cafajestes, famoso em Copacabana, na rua Miguel Lemos e arredores. Tornou-se notável pela elegância com que se vestia, bem como pela dificuldade no trato.

Heleno jogou em diversos clubes em sua carreira, nunca deixando partir-se o amor que o amarrava ao Botafogo, onde, em sua passagem, marcou 209 gols em 235 partidas, tornando-se o melhor e maior artilheiro da história do clube, embora não tenha conseguido ganhar um campeonato, ao menos. Jogou no Vasco, Fluminense, Boca Juniors, Atlético Junior e passou ligeiramente pelo Flamengo e América. Recorde-se que no Flamengo e no América, mal entrou já estava saindo, por respectivamente, num jogo técnico de teste, ter arrumado confusão com os companheiros, e por, no jogo contra o time de Campos Salles, ter sido expulso de campo no primeiro tempo e não haver voltado mais (aconteceu no Maracanã). Manifestava-se já o mal que o afetava e o levava a fazer muitos inimigos, tendo chegado ao extremo do abandono e até à mendicância. Por fim, em 1953, com o apoio de sua família, foi internado num sanatório em Barbacena (MG), onde ficou até falecer, em 1959. Sua esposa, Ilma, fugira para Petrópolis em 1952, levando consigo o único filho, por não mais suportar o temperamento de Heleno.

Mas as glórias conquistadas por Heleno, essas sim passaram para a história através, entre outros, de uma estátua que será erguida no Engenhão (RJ), onde já existe estátua de Nilton Santos, Garrincha e Jairzinho. Em Barraquilha, na Colômbia, há uma estátua de Heleno com a inscrição “El jogador”.

Em 2011, será lançado o filme nacional sobre Heleno de Freitas, tendo como realizador José Henrique Fonseca e no papel do próprio Heleno, Rodrigo Santoro. Aline Moraes interpretará sua esposa Ilma. Imperdível!

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